Ribeirão Preto, 24 mar, 2025
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Estudo revela que maioria dos professores já presenciou casos de racismo entre alunos no Brasil

6 meses atrás
© Joédson Alves/Agência Brasil
6 meses atrás

Um relatório divulgado nesta quarta-feira (18) revelou que a maioria dos professores brasileiros já presenciou casos de racismo entre alunos nas escolas. O estudo, realizado por uma entidade de defesa dos direitos humanos, aponta que 7 em cada 10 professores do ensino fundamental e médio relataram ter testemunhado atos de discriminação racial no ambiente escolar.

A pesquisa ouviu mais de 5 mil educadores em todo o país e trouxe à tona um problema persistente que afeta diretamente o ambiente escolar: o preconceito racial. Embora o racismo nas escolas seja amplamente condenado, o estudo revela que ele continua sendo uma prática comum, e muitas vezes sutil, que prejudica a formação e o desenvolvimento dos alunos, principalmente de estudantes negros e indígenas.

Relatos de discriminação

Os professores ouvidos no estudo descreveram diversos tipos de comportamentos racistas, desde insultos e piadas de cunho racial até a exclusão de alunos em atividades sociais e acadêmicas. Segundo os educadores, esses casos ocorrem tanto entre os alunos quanto entre professores e funcionários, o que reforça a complexidade do problema.

“Infelizmente, o racismo está presente de forma muito clara nas escolas. Já presenciei alunos sendo ridicularizados por sua cor de pele ou cabelo, e isso tem um impacto emocional muito grande”, afirmou uma professora de uma escola pública de São Paulo.

O relatório também destacou que muitos dos professores se sentem despreparados para lidar com essas situações. Quase 60% dos entrevistados afirmaram que nunca receberam treinamento específico para identificar e combater o racismo no ambiente escolar. “Sabemos que o racismo é um problema, mas muitas vezes não sabemos como agir de forma eficaz para combater essa questão”, relatou outro professor.

Impacto nos alunos

O estudo também chamou a atenção para os efeitos do racismo no desenvolvimento dos alunos vítimas de discriminação. De acordo com a pesquisa, estudantes que enfrentam preconceito racial frequentemente apresentam menor desempenho acadêmico, além de estarem mais suscetíveis a problemas psicológicos como ansiedade, depressão e baixa autoestima.

Especialistas em educação e direitos humanos destacam que o racismo no ambiente escolar pode ter consequências graves e duradouras. “O ambiente escolar deve ser um espaço seguro e acolhedor para todos os alunos. Quando o racismo entra nesse espaço, ele gera barreiras emocionais e intelectuais que prejudicam o aprendizado e o desenvolvimento integral da criança ou do adolescente”, afirma uma especialista em educação inclusiva.

Políticas públicas e combate ao racismo

Diante desses dados alarmantes, o estudo recomenda que o combate ao racismo nas escolas seja prioridade nas políticas educacionais. Entre as sugestões estão a criação de programas de capacitação contínua para educadores, a inclusão de discussões sobre racismo e diversidade nos currículos escolares e a promoção de campanhas de conscientização entre estudantes e famílias.

O Ministério da Educação (MEC) afirmou que já vem desenvolvendo políticas voltadas para a inclusão e o combate ao preconceito nas escolas, mas reconheceu que ainda há um longo caminho a percorrer. “Estamos comprometidos em garantir um ambiente escolar livre de qualquer forma de discriminação, e esse estudo reforça a importância de intensificarmos nossas ações”, declarou um representante do MEC.

Educação antirracista como caminho

Especialistas apontam a necessidade de uma educação antirracista, que promova o respeito e a valorização das diferenças desde cedo. A Lei 10.639/2003, que estabelece a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas, foi um marco importante, mas a sua implementação ainda é considerada limitada. “É preciso ir além das datas comemorativas e das disciplinas esporádicas. A educação antirracista deve estar presente no cotidiano escolar”, ressaltou uma pedagoga envolvida na pesquisa.

Enquanto os educadores aguardam políticas mais eficazes, muitos continuam a buscar por si mesmos maneiras de promover o respeito à diversidade em sala de aula. “Mesmo sem uma formação adequada, tento conversar com meus alunos sobre a importância de respeitar o próximo, independentemente da cor da pele ou da origem”, relatou um professor do ensino fundamental.

O desafio de transformar a realidade

A pesquisa conclui que o racismo nas escolas é um reflexo das desigualdades sociais mais amplas presentes na sociedade brasileira, e que o combate a essa prática exige um esforço coletivo. “Não podemos mais aceitar que o ambiente escolar seja um espaço de perpetuação do racismo. A transformação começa com o engajamento de todos – professores, alunos, pais e gestores”, concluiu o relatório.

Fabio Benedicto

Fábio Benedicto é o editor-chefe da Folha de Ribeirão. Com mais de 15 anos de experiência no jornalismo, Fábio é conhecido por sua dedicação à verdade e à integridade jornalística. Ele lidera a equipe com paixão e compromisso, garantindo que todas as notícias sejam apuradas com rigor e precisão.

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