A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou a suspensão imediata da venda e propaganda dos chamados “chips da beleza”, implantes hormonais que vinham sendo promovidos como uma solução para ganho de massa muscular, emagrecimento e rejuvenescimento. A decisão, divulgada em outubro de 2024, foi motivada por preocupações quanto à falta de comprovação científica sobre a segurança e eficácia desses dispositivos, além de relatos crescentes de efeitos colaterais graves associados ao seu uso.
O Que São os “Chips da Beleza”?
Os “chips da beleza” são implantes hormonais subcutâneos que liberam gradualmente hormônios no organismo, como testosterona e gestrinona, ao longo de meses. Promovidos como alternativas para tratamentos estéticos, eles ganharam popularidade entre pessoas interessadas em melhorar o físico e a aparência de forma rápida, prometendo benefícios como perda de peso, aumento da massa muscular, controle de acne e outros efeitos relacionados ao equilíbrio hormonal.
Apesar da crescente procura por esses implantes, sua utilização estava ocorrendo sem a devida regulação e sem estudos robustos que comprovassem a segurança do procedimento a longo prazo. A Anvisa, ao suspender a comercialização, destacou que os riscos superam qualquer possível benefício, principalmente porque o uso indiscriminado de hormônios pode desencadear uma série de complicações para a saúde.
Riscos à Saúde
De acordo com especialistas consultados pela Anvisa, o uso dos “chips da beleza” sem indicação médica adequada pode gerar efeitos adversos graves, como desregulação hormonal, alterações no ciclo menstrual, crescimento excessivo de pelos, mudanças de humor, aumento do risco de doenças cardiovasculares e até problemas no fígado e rins. Em alguns casos, a utilização prolongada de implantes hormonais também pode aumentar o risco de desenvolver cânceres hormonodependentes, como o de mama e o de próstata.
Outro ponto levantado pela agência é o fato de que esses implantes eram frequentemente adquiridos e aplicados por profissionais sem especialização na área de endocrinologia, aumentando o risco de complicações durante e após o procedimento. Muitas clínicas e salões de estética estavam oferecendo os chips sem que os pacientes fossem devidamente informados sobre os riscos envolvidos, o que levanta questões sérias sobre a ética na prática desses tratamentos.
A endocrinologista Carla Silveira explica que “o uso de hormônios deve ser rigorosamente controlado e indicado apenas para casos onde há uma necessidade médica comprovada. O uso indiscriminado para fins estéticos é extremamente perigoso, pois os hormônios afetam várias funções do corpo de forma sistêmica”.
Falta de Comprovação Científica
A decisão da Anvisa também se baseia na falta de estudos científicos sólidos que comprovem a eficácia e a segurança desses implantes. Embora muitos usuários relatem resultados rápidos e visíveis, a comunidade médica aponta que esses efeitos podem vir acompanhados de graves desequilíbrios no corpo, com consequências que podem não ser percebidas imediatamente.
Os implantes hormonais, que em alguns casos são indicados para tratamentos específicos, como endometriose ou terapia de reposição hormonal, estão sendo utilizados fora dessas indicações, o que leva a um uso inadequado e perigoso. A Anvisa reiterou que, sem uma regulação clara e sem a condução de estudos clínicos rigorosos, o uso dos “chips da beleza” não pode ser considerado seguro ou eficaz para a população em geral.
Propagandas Enganosas
Outro fator que levou à suspensão foi o caráter enganoso de muitas propagandas dos “chips da beleza”. As promessas de resultados estéticos rápidos, sem mencionar os riscos e efeitos colaterais, estavam em desacordo com as normas de publicidade de medicamentos e produtos de saúde no Brasil. A Anvisa alerta que qualquer produto que interfira nos níveis hormonais deve ser prescrito por um médico especializado, e que os tratamentos não podem ser divulgados como soluções milagrosas ou livres de risco.
A agência também ressaltou que muitos anúncios focavam em celebridades e influenciadores que faziam uso dos implantes, aumentando sua popularidade sem o devido esclarecimento ao público sobre os perigos do tratamento. Esse tipo de prática pode induzir consumidores ao erro, levando-os a acreditar que o produto é seguro e eficaz sem a devida base científica.
Próximos Passos
Com a suspensão, a Anvisa determinou que as clínicas e estabelecimentos que comercializam e aplicam os “chips da beleza” devem interromper imediatamente as atividades e retirar os produtos de circulação. As empresas que não cumprirem a determinação estarão sujeitas a sanções legais e multas. Além disso, o órgão anunciou que seguirá investigando a fundo os riscos desses implantes e sua adequação para o uso estético.
Enquanto isso, a Anvisa também reforça a importância de que os consumidores busquem sempre orientação médica especializada antes de iniciar qualquer tratamento hormonal. A decisão final sobre o uso de qualquer tipo de hormônio deve ser feita de forma individualizada, levando em conta as condições de saúde e os riscos associados.
Conclusão
A suspensão da venda e propaganda dos “chips da beleza” pela Anvisa é um alerta importante sobre os riscos do uso indiscriminado de hormônios para fins estéticos. Com a falta de comprovação científica e os inúmeros relatos de efeitos adversos, a decisão visa proteger a saúde pública e garantir que tratamentos hormonais sejam utilizados apenas com orientação médica adequada. O apelo por resultados rápidos no campo da estética não pode justificar o comprometimento da saúde a longo prazo, e a regulação é essencial para evitar danos maiores à população.